quinta-feira, 15 de outubro de 2009

"Da Estrutura Física / Patrimônio Material: 'Templos' ou 'Casas de Oração'? "

I - Introdução:

Templos: Panorama Histórico


Em período consideravelmente anterior a primeiras edificações denominadas “templos” (lat.: “templum”), as populações pré-civilizadas já lançavam os rudimentos daquilo que viria a constituir seus futuros “locus sagrados”. Assim, utilizavam-se os ápices dos montes (“lugares altos”), determinadas árvores (em especial, o carvalho), o interior dos bosques e entranháveis florestas. Nestes, edificavam-se penhas (pedras-altares) e mais tardiamente os totens (bem como obeliscos - Egito).


Acima: Bosques "Sagrados"/Pedras Rituais/Obelisco egípcio


Os templos, propriamente ditos, vieram e despontar em meio às construções residenciais comuns apenas na época em que, ao redor dos locais tradicionalmente destinados ao “culto”, elevaram-se muros (ou muralhas) como medidas cautelares. Contudo, permaneciam descobertos, a fim de que os CÉUS se tornassem plenamente visíveis a partir de seu interior. Tal regra tornou-se aplicável a praticamente todos os povos primitivos, visto considerarem os céus a habitação comum a todos os deuses. A propósito, as divindades primevas foram desde os mais remotos dias associadas aos astros, como se pode observar, sobretudo, entre os mesopotâmicos e balcânicos.

Os primeiros templos vieram a ser erigidos em território mesopotâmico (“Terra entre rios"), mais precisamente em meio aos os sumérios, por volta do IV milênio a.C., alcançando seu apogeu nos dias babilônicos. Os primitivos templos mesopotâmicos, à base de tijolos secos ao sol, eram em tudo simples: quatro paredes e, ao fundo o ídolo titular (a céu aberto). Os mais imponentes templos, todavia, foram edificados sob a administração Babilônica, em forma de zigurates (pirâmides terraplanadas). Entre os mais célebres, encontram-se Marduk, também denominado Esaguil ("casa do teto alto"), flanqueado, ao norte, pela torre em degraus, o zigurate. Este zigurate, chamado "Etemenanqui", ("templo dos fundamentos dos Céus e da Terra"), alude a “Torre de Babel", cuja base em quadrado, possuía 91 metros em ambos os planos (horizontal e vertical). A torre mencionada, alvo dos ataques comandados pelo monarca assírio Senaqueribe, foi posteriormente reconstruída por Nabopolassar e seu filho Nabucodonosor.

Zigurate Babilônico



Os gregos, por seu turno, esmeraram-se em suas edificações rituais, legando ao mundo ocidental, o “cânon” arquitetônico, predominantemente vigente até os presentes dias.



Templo de Diana/Ártemis ("dos efésios")


Ressalte-se, todavia, que tanto uns como outros, limitam-se atualmente a algumas poucas ruínas... Seu esplendor e fausto reduziram-se a vagas lembranças, tal qual as divindades que outrora abrigaram...

Templo grego/Ruínas

Zigurate Babilônico/Ruínas


II – O Templo Veterotestamentário ou Templo de Salomão:


Templo de Salomão


Muito embora “IHVH”, não tenha formalmente reclamado - como prioridade ou condição imposta - a edificação de uma “Casa” para sua morada, aprouve a Davi, intentar tal projeto, julgando o Tabernáculo móvel, inadequado ante suas conquistas e poderio bélico.

Contudo, dadas as suas flagrantes iniqüidades, não lhe coube o mérito de lançar os bases da futura obra. Salomão, pois, levou a cabo o pretensioso empreendimento. Destaque-se, ainda, que muito do que fora aplicado à edificação do templo dispunha de procedência gentia ou pagã, podendo-se afirmar o mesmo, no tocante ao estilo arquitetônico e demais traços comuns à cultura babilônica. Bem, não obstante, “IHVH” tenha acatado tão majestosa oferenda, não muito tempo depois, passa a demonstar contínuo desapontamento, em face das inúmeras transgressões e generalizadas incontinências, doravante comuns à população judaica.

O primeiro templo é destruído (sob Nabucodonosor). Zorobabel o reedifica (sob Ciro)... Novamente sofre danos, e generalizada deterioração... Herodes I (da Judéia) o reconstrói... Finalmente, em 70 d.C. (segundo predito pelo Divino Mestre) é assolado por Tito, General Romano.



Tomada de Jerusalém

(Destruição do templo por Tito, "O Romano")



III – Os primitivos cristãos e seus locais de “culto”:


Sabe-se, segundo evidenciam os textos neotestamentários canônicos, que os primitivos adeptos cristãos, congregavam-se em locais diversos, não havendo (segundo as circunstâncias predominantemente adversas) um “lócus” especificamente determinado para este fim. De tal modo, que o “cenáculo” lhes serviu de provisório abrigo no interstício cruxificação-pentecostes. Também, afluíam às casas particulares e, não poucos ainda mantinham-se assíduos ao templo judeu (Atos 2:46/20:20). Aliás, por determinado período e, em distintas localidades, instaurou-se o modelo eclesial “comunal” (“tudo em comum”), ainda utilizado por alguns segmentos de menor realce no meio protestante, como as “Colônias Huterianas”. Na medida em que o Evangelho propagou-se rumo ao oeste do Império, núcleos familiares adquiriram com intensidade cada vez maior o “status” de “ekklésia” local (Romanos 16: 3-5 / Colossenses 4:15...). Destaque-se ainda, que durante as mais atrozes perseguições romanas, não poucas “catacumbas”, converteram-se em núcleos de refúgio e “culto”. Finalmente, com o advento da Grande Apostasia, ou “Igreja Constantiniana” (séc. IV), surgiram os chamados “templos cristãos” ou, “igrejas auditório”... Diga-se de passagem, que muitos desses “templos” utilizaram-se de edificações anteriormente dedicadas às divindades gentias (“pagãs”) ou, fizera-se uso de seus despojos (colunas, mármores, ídolos...)... Daí por diante, o Império supostamente “cristão”, passa a erigir ou ADEQUAR seus templos (ou “igrejas”) em larga escala. Um dos mais memoráveis em sua antiguidade e estrutura é o “PANTEÃO de Agripa”, originalmente dedicado à miscelânea de divindades gentias então catalogadas e, por determinação clerical convertido em “templo cristão”....


Panteão de Agripa/Roma


IV- A Congregação Cristã contemporânea e suas edificações:

A Congregação Cristã, desde seus primórdios, ateve-se a uma “modalidade doutrinário-organizacional” acentuadamente anti-institucionalizada, em conformidade com as diretrizes e norteadores comuns aos Dias Apostólicos. Por essa razão, Louis Francescon, “O Ancião”, sempre primou pela perpetuação de uma condição eclesial não formalizada, o que implica entre outras coisas, na ausência de nomenclatura e “lócus”. Entretanto, em razão de sua expansão numérica/geográfica, e em sujeição as determinações apostólicas acerca dos deveres para com o Estado, pareceu-lhe adequado restabelecer o original distintivo, universalmente aplicado à coletividade cristã desde os alvores de nossa Era, a saber: “Congregação Cristã” (“Ekklésia Christiana”/ “Igreja Cristã”). Além disso, e como conseqüência imediata, tornou-se premente a aquisição de locais e/ou instalações para a oficial realização de suas reuniões e afins.

Assim, da rústica e inexpressiva “sala de oração” provisoriamente erguida no município de Santo Antônio da Platina (Paraná), abrigando aos neo-convertidos locais, deu-se início a uma nova e ininterrupta etapa, caracterizada pela edificação de “Casas de Oração”, devidamente adaptadas às peculiaridades doutrinário-eclesiológicas comuns ao segmento.

Primeira "Sala de Oração" provisoriamente improvisada

(ao lado, o primeiro "neófito")

Santo Antônio da Platina/PR


Ora, partindo-se da premissa de que o Novo Pacto instaura um inédito estágio no âmbito soteriológico, presume-se que determinados “modus operandi” ainda atrelados ao Primeiro Concerto, venham a ser naturalmente suplantados... Tal se dá (entre outros) para com o conceito de “Recinto Sagrado”... O próprio “IHVH” (segundo as descrições supra-citadas / “Templo Veterotestamentário ou Templo de Salomão”) manifestou-se (direta e indiretamente) avesso ao ato de edificar-lhe “casa ou morada”... O simples fato, de haver consentido na quase extinção do derradeiro templo (sob o saque empreendido por Tito, o Romano), já expressa seu desalento... Ademais, emite parecer expressamente censurável em citações como:


“O céu é o meu trono, e a terra, o estrado dos meus pés; que CASA me edificareis, diz o Senhor, ou qual é o lugar do meu repouso?


E Paulo, ao deparar-se com os muitos santuários dispersos pela vastidão de Atenas, veementemente declara:

“O Deus que fez o mundo e tudo que nele há, sendo Senhor do céu e da terra, não habita em TEMPLOS feitos por mãos de homens...”(Atos 17:24)

De sorte, que a Congregação Cristã atual julgou escrituristicamente improcedente a edificação de TEMPLOS, segundo a acepção milenarmente conferida aos mesmos, isto é, “Morada ou habitação da Divindade” (Gr.:”nauis”). Desta feita, não lhe é próprio atribuir às suas edificações ou prédios a designação habitualmente usual nos círculos protestantes ou católicos romanos, a saber, “templos”, ou ainda “igrejas” (sendo esta última, etimologicamente equívoca – Ver artigo "Etimologia -Ekklésia Christiana”).

Pelas mesmas razões apresentadas, tende ainda a evitar a expressão “Casa de Deus”. Considerando-se, que a clássica citação contida em I Timóteo 3:15 acerca da “Ekklésia” como sendo a “Casa de Deus” remete-se (em sua precisa acepção etimológica) ao caráter figurado ou analógico, depreende-se que o vocábulo grego “oikos” refere-se não ao espaço físico, mas àquilo que se desenvolve “em lar”. Portanto, a tradução mais adequada ao contexto em pauta seria “família” e não propriamente “casa”. É desde longa data sabido, que a tradução efetuada por João Ferreira de Almeida deixa a desejar em inúmeros quesitos. Nesse particular, verte a idéia de FAMÍLIA por CASA (espaço físico), induzindo o leitor leigo a um relevante déficit interpretativo. Não raro, inúmeros preletores “teológicamente” renomados, incorrem em tal despautério, atribuindo a expressão à idéia subjacente a “NAOS” (TEMPLO). O fragmento, pois, alude a “Ekklésia”, Corpo Espiritual (ou “Místico”), no qual o Eterno subsiste na pessoa de seus membros (vide I Pedro, 2:5).

Essa concepção sobremaneira espiritual tornou-se, o diferencial por excelência em toda a Dispensação Neotestamentária, contrapondo-a frontalmente a literalidade comum ao Antigo Pacto. De tal modo, que Paulo surpreendentemente eleva o cristão à condição de “naos”:

“Não sabeis vós que sois o templo de Deus e que o Espírito de Deus habita em vós?” (I Corintios 3:16).

Aliás, nada mais faz que reiterar um parecer, subliminarmente emitido pelo Divino Mestre:

“Mas ele falava do templo do seu corpo” (João 2:21)

E, respaldando a presente explanação, atenhamo-nos ao fato de que, em contrapartida à Jerusalém terrestre, a Jerusalém Celestial não comportará templo algum:

“Nela não vi templo...” (Apocalipse 21:22)



V - “Casas de Oração”: Parâmetros e Configurações





Casa de Oração Central / São Paulo - Capital

(destaque para as galerias e tanque batismal ao fundo)



Sob a designação oficialmente reconhecida de “Casas de Oração”, a Congregação Cristã têm se dedicado laboriosamente à edificação das mesmas, ao longo deste primeiro século de implantação em território brasileiro. Sua finalidade primeira consiste (conforme já demonstrado), não em abrigar a Divindade ou tê-la como “residente” no referido “lócus”. Aliás, não se acredita que o Ente Divino nela fixe morada, antes, manifeste-se por ocasião das convocações eclesiais (reuniões/ “cultos” e afins). Tem, pois, por escopo, acolher, acomodar e adequadamente distribuir sua “membresia”.

Os ditames e parâmetros especificamente direcionados as suas construções primam pela sobriedade e harmonia de traços, pressupondo um espaço minimamente “dispersivo” (sob a óptica sensorial). Pretende-se assim, acautelar-se acerca dos “ruídos visuais”, via de regra, comuns aos estilos arquitetônicos ditos litúrgicos, tais como o barroco. Desta forma, tem-se um ambiente predominantemente “silente” e assaz favorável à introspecção.

Muito embora, precavida acerca dos excessos, a Congregação Cristã esmera-se em suas edificações, imprimindo-lhes uma sutil atmosfera de “sereno vigor” ( Neste particular, o aparente antagonismo se faz necessário para fins descritivos...) Quanto às tonalidades cromáticas, predominam o branco, cinza, azul ou tons “pastel” em medidas sobrepostas... Mais um elemento a corroborar com o primordial propósito de se predispor os presentes à espiritual elevação e sintonia.

Ao fundo, em negrito (e sob proporcional distribuição), visualiza-se o lema unanimemente reconhecido: “EM NOME DO SENHOR JESUS” (“E tudo quanto fizerdes por palavras ou por obras, fazei-o em nome do Senhor Jesus, dando por ele graças a Deus Pai” -Colossenses, 3:17 ). Esta deliberação, deu-se via glossolalia e interpretação ("karismas").

Quanto à configuração vigente, nada há de excepcional. Salvo raríssimas exceções (como a "Casa de Oração" Central / São Paulo - capital) o prédio constitui-se de:

I- Salão central ou nave (retangular ou quadrado)
II -“ Átrio” ou “ * nartéx” da fachada
III - “ Átrio” ou “ * nartéx” laterais (variando entre dois e quatro)
IV - Sanitários
V - Zeladoria/Residência do Zelador local.

Nas “Casas de Oração” “centrais” de cada localidade, costuma-se incluir a “Sala de Assembléias” (“Conselho”), Sala das Obras Pias (Diáconos), além dos tanques batismais e seus respectivos vestiários. Elementos outros, como cozinhas, alojamentos e enfermarias podem ser incluídos segundo as necessidades locais.

* “O termo arquitetônico nártex (do latim “narthex”, e origem grega “narthikas”, (νάρθηκας), refere-se, em sentido lato, à zona de entrada de uma edificação. Também outras designações podem surgir associadas a este termo, como átrio, vestíbulo, galilé" ...



“Casa de Oração” Padrão
(átrio frontal longo - atualmente o mais habitual)


Segundo dados atuais, a Congregação Cristã dispõe de cerca de 19.000 Casas de Oração, distribuídas por todo o território nacional, além de suas congêneres (ou co-irmãs) dispersas pelos cinco continentes. Segundo fontes diversas, calcula-se que a cada dois dias sejam oficialmente abertas três Casas de Oração em solo brasileiro.

Além das Casas de Oração "Padrão Universal", novas modalidades arquitetônicas encontram-se em estágio "probatório" ou de experimentação. A redobrada cautela em relação a tais construções, deve-se, não necessáriamente aos aspectos econômicos ou destes decorrentes, mas sobretudo ao fator IDENTIDADE. As Casas de Oração erigidas pela Congregação Cristã, tornaram-se uma espécie de reflexo da própria instituição, enunciando em sua configuração alguns dos predicados típicos ao segmento. Entre eles, a COESÃO e UNIDADE grupal. Isto posto, preza-se sobremaneira pela manutenção e preservação de tais caracteres. A propósito, a 72ª Assembléia Geral, realizada no ano de 2007, já pontuou tal questão, emitindo parecer deliberativo em caráter oficial ("Construções Suntuosas e Extravagantes" /Tópico XV).

Casa de Oração Central

Curitiba/P.R


Seja como for (e, tomando-se as precauções cabíveis) algumas capitais, já tem lançado os fundamentos de novos e arrojados projetos na área, como Curitiba, Campo Grande, Goiânia, entre outros... Mesmo cidades de menor porte, como Cascavel, no interior paranaense, tem investido em materiais e estilos até então inusitados.


Audacioso e arrojado projeto

(já em execução)

Com relação ao projeto supra-citado (Cascavel, Estado do Paraná), é possivel visualizá-lo com maior precisão (via animação computadorizada) pelo link: http://www.youtube.com/watch?v=zQfI8QUuTKY

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

"Do Governo Eclesial: Estrutura e Organização"

A temática alusiva ao "sacerdócio" cristão, sua primitiva estrutura e critérios eletivos, tem sido causa de relevantes e recorrentes polêmicas, embora não faça jus a tão acirrada porfia. A seguir, algumas averiguações e apontamentos.

DAS CLASSES MINISTERIAIS OFICIALMENTE RECONHECIDAS:

Temos disso, uma "súmula" universalmente aceita, inclusive, nos círculos católicos romanos. Assim, segundo as narrativas neotestamentárias (canônicas) os dias apostólicos (séc. I) comportaram exclusivamente DUAS e irrefutáveis classes ministeriais, a saber:

* O Presbiterato
* O Diaconato

Compunha-se, a primeira de ANCIÃOS (Gr.: presbúteroi - πρεσβυτερος ) e a segunda de SERVIDORES (Gr.: diáconos - διάκονος), embora, cronologicamente, a instituição de ambas encontre-se inversamente situada.

Faz-se mister, porém, um breve parêntese acerca das origens do "Presbiterato" - bem como da "Diaconia" - quanto a sua aplicabilidade em períodos pré-cristãos. Ao delegar a organização da primitiva "ekklésia" cretense a Tito, Paulo nada mais faz que reintroduzir ao seio cristão uma modalidade administrativa desde longa data, comum ao contexto semita. De sorte que, com o estabelecimento das sinagogas, o habitual "za·qen", (ancião tribal ou civil) converte-se em ministro religioso, sendo assistido por um servidor (hb.: "eded")... Ainda no âmbito veterotestamentário (conforme já verificado por autores patrísticos), a mesma relação dual vem a repetir-se no chamado "Ministério Profético". Tornou-se, pois, familiar e corriqueiro a todo hebreu a expressão "O Profeta e seu moço" (servo), instaurando-se, desde então, uma sólida e recíproca co-dependência entre ambos. Já no séc.VII (E.C/d.C), as populações árabes, neo-convertidas ao Islã, reintegram o ancião (ar.: "xeque") a sua condição de direito, sendo este, auxiliado por servos (ar: "abd")...

Retornando aos alvores da Dispensação Apostólica, temos na pessoa dos ANCIÃOS cristãos, os recipiendários do primitivo legado, aos quais fora confiado (como incumbência inerente aos seus atributos) o EPISCOPADO (gr.: superintendência/supervisão). Assim, enquanto superintendentes congregacionais (gr.:επίσκοπος), exerciam a continua supervisão eclesial, o que por analogia, remete-nos aos predicados do "pastoreio". Conclui-se, pois, que as expressões ANCIÃO / EPÍSCOPO-BISPO / "PASTOR", referem-se a uma só e mesma pessoa. Quanto à expressão "PASTOR", cabe-nos uma relevante ressalva. O vocábulo assim traduzido (gr.: "poimein"), não faz referência a um "pastor" segundo a concepção atualmente aplicada (distintivo ministerial e/ou título sacerdotal). Atêm-se assim, ao seu componente denotativo ou alegórico. A propósito, as menções a Hebreus, 13:7 / 13:17, deliberada e irregularmente vertidas por "vossos pastores" (gr.: "poimein"), ilustram magistralmente o quadro. A expressão grega originalmente codificada "hegoumenois himón", designa governo e/ou vigilância, ou seja, dirige-se aos oficiais locais, aludindo às funções ou atividades pelos mesmos exercidas, e não ao distintivo ministerial corrente e aceito (Ancião/Presbítero)... Para fins meramente ilustrativos, recorramos à figura de um professor. Este, não obstante, venha a ser habitualmente classificado como "educador" (função e/ou atribuição), nem por isso foi declarado (por ocasião de sua solene formatura) como "educador"... Ao invés disso, a distinção a ele legalmente outorgada foi professor (título e/ou distintivo)... Semelhantemente, as primitivas "ekklésias cristãs", em momento algum (ao longo de todo o Período Apostólico) - elegeram ou ordenaram "PASTORES", antes, ANCIÃOS, aos quais, os afazeres correlatos ao "apascentar" foram conferidos ("Exortação aos Presbíteros Efésios”- Atos, 20:28 )... Faz-se mister, portanto, uma nítida distinção entre dois estados ou condições diametralmente opostos, a saber, FUNÇÃO ATRIBUTIVA e TITULAÇÃO DISTINTIVA. Quanto às "atribuições" elencadas em Efésios 4, 11 e, equivocadamente aplicadas como argumento refutativo - por não poucas vertentes cristãs - referem-se, ora a pessoa do Presbítero-Epíscopo, ora às diversas modalidades de "karismas" então "em voga". Não se pode, portanto, afirmar - sob pena de "lesa-hermenêutica" - que a primitiva "Ekklésia" Apostólica tenha, sob quaisquer circunstâncias, designado "apóstolos", "profetas", "evangelistas", ”pastores” e "doutores" ("mestres") como classe ministerial distinta e, formalmente ordenada ... Diga-se o mesmo, de uma suposta "Classe de COOPERADORES " (Ou "Colaboradores") ... Por essa razão, a Congregação Cristã não ousa incorrer no crasso equívoco de ORDENAR (em caráter "sacramental") aos seus "cooperadores", mas tão-somente apresentá-los como tal. Visto que, se assim o fizesse, forçosamente teríamos que admitir a figura de PRISCILA como membro integrante no rol dos primitivos "cooperadores" cristãos (Romanos, 16:3)... Mas essa, é uma temática à parte...

Pedro, "O Presbítero" (I Ped. V, I-IV)

e sua suposta crucificação sob o governo de Nero



Quanto à segunda Classe (Diáconos - Servidores), nada há a se esmiuçar visto tratar-se de algo patente a todo e qualquer "doméstico" à Fé Cristã, quer no âmbito protestante ou católico romano. Não raro, contudo, tende-se a polemitizar no tocante ao suposto "Diaconato Feminino"... Tal posicionamento lança mão da personagem neotestamentária Febe (Rom. 16:1), à qual se refere o “koiné” (grego-arcaico) utilizando-se de vocábulo similar àquele aplicado aos Diáconos (gr: διάκονος). Mediante tal fato, não poucos apologetas e hermeneutas patrísticos, avalizaram tal conjectura. Dentre eles, temos:

* Justino Mártir, Roma,110-165 d.C.
* Orígenes, Egito/Palestina, 185-254 d.C.
* Ambrosiastro, Roma, séc. IV.
* João de Antioquia, Constantinopla, 347-408 d.C.
* Theodoreto de Ciro, Ásia Menor, 423 d.C

Não nos esqueçamos, entretanto, que Cencréia/Cêncris, consistia basicamente em um porto, cuja situação distava em torno de 12 kilômetros de Corinto... Possivelmente, tratava-se de uma extensão ou "apêndice" da primitiva "Ekklésia" coríntia, cujas peculiares necessidades conduziram o Apóstolo a uma medida um tanto heterodoxa, todavia, emergencial...


Estevão, "O Proto-diácono", e seu martírio.

Ora, considerando-se a ortodoxia predominantemente verificável entre as diversas vertentes cristãs (rejeição ao diaconato feminino), e a substancialidade dos argumentos contrapostos, pareceu adequado à Congregação Cristã contemporânea, estabelecer uma seleta "classe" de mulheres (preferencialmente idosas e/ou viúvas -"inscritas"), para o exercício das atividades caritativas e/ou beneficentes (tradicionalmente associadas ao Diaconato, em sua finalidade primeira – “Servir as mesas”). Tal é o procedimento em vigor, não agraciando-as, contudo, com o “grau” ou titulo de “diaconisas”. Estas coadjutoras diaconais (“Irmãs da Piedade”) atuam em estreita cooperação com o Corpo de Diáconos, estando-lhes, outrossim, sujeitas no tocante as deliberações e demais projetos inerentes às Obras Pias.

DOS CRITÉRIOS ELETIVOS:

Apresentam-se como critérios tradicionalmente acatados em sua canonicidade, àqueles enumerados nas Epístolas Paulinas endereçadas a Timóteo e Tito. Contudo, não se deve erroneamente pressupor que Paulo (entre suas sentenças seletivas), pré-estabeleça (em caráter doutrinário - "conditio sine qua non") que o ministro cristão venha a contrair matrimônio prévio, para o regular exercício de suas funções. Neste particular, refere-se a matrimônio em caráter NUMÉRICO - opondo-se a poligamia própria do contexto sócio-cultural judaico e mesmo às lascivas práticas então comuns no "ethos" greco-romano. Mas, por outro lado, enaltece o matrimônio e a família como um pré-estágio para uma bem sucedida administração eclesial (I Tim. 3:5)...


Ainda assim, e para uma mais detalhada apreciação, dissequemos o fragmento, elencando-o sob duas abordagens:

Aspectos Negativos:

Não avarento [ aphilarguros ] - Que não ama a prata.
Não bígamo ou polígamo [ mias gunaikos andres ] - Que seja homem de uma só mulher, com moral inquestionável e imune a suspeitas.
Não cobiçoso [ aischrokerdes ] - Que não deseja lucro vergonhoso, mas prefere ter prejuízo.
Não contencioso [ amachos ] - Que é avesso a contendas, pacífico.
Não dado ao vinho [ paroinos ] - Que não se demora ao lado, na presença ou ambiente do vinho.
Não espancador [ plektes ] - Que não seja colérico, afeito a truculências.
Não iracundo [ orgilos ] - Que não seja "inclinado" à ira, ou de temperamento implosivo.
Não neófito [ aneophutos ] - Que não seja uma "folha nova", produto de algo recentemente plantado ; inexperiente.
Não soberbo [ authades ] - Que não seja orgulhoso, arrogante, presunçoso, impondo o próprio desejo.
Aspectos Positivos:

Amigo do bem [ philagathos ] - Que ama o que é bom e benéfico (lit.).
Apto para ensinar [ didaktikos ] - Capacitado à transmitissão do ensino.
Honesto [ kalos ] - Decente, decoroso, de bom comportamento.
Hospitaleiro [ philochenos ] - Que ama o estranho, o estrangeiro.
Justo [ dikaios ] - Correto, reto.
Moderado [ epieikes ] - Cordato, gentil, tolerante.
Santo [ hosios ] - Dedicado a Deus.
Sóbrio [ sophron ] - Que tem auto-controle, que seja moderado.
Temperante [ enkrates ] - Com aptidão para frear seus desejos.
Vigilante [ nephalios ] - Homem de mente clara e ordenada/concisa.
Resta-nos assim, ponderar, e se necessário reaver determinados conceitos ou conclusões pré-concebidas, à luz de uma averiguação etimológica contextualmente consistente e precisa.

DA PROEMINÊNCIA ORGANIZACIONAL: MODELO PRESBITERAL OU EPISCOPAL?

Outra questão correlata ao eixo temático - e responsável por diversas e convenientes lacunas - diz respeito a modalidade organizacional-administrativa vigente no dias primitivos. O governo eclesial caracterizava-se como sendo de ordem PRESBITERAL ou EPISCOPAL? Bem, segundo depreende-se dos textos neotestamentários (canônicos), a proeminência do Presbítero é legítima e intransferível, sendo sua condição inconteste, enquanto depositário da autoridade e legados apostólicos. Destaque-se, porém, que cada "ekklésia" ou cidade era assistida por um "Presbitério" ou Conselho de Anciãos (Atos 14:23 / Atos 20:17...) . Devido a tal constatação, afirmam alguns, que a Congregação Cristã hodierna apresenta uma estrutura organizacional parcialmente diversa daquela: conjectura-se, que nenhum presbítero viesse a dispor de irrestrita primazia sobre a "ekklésia" local, visto que suas prerrogativas ministeriais eram (em similares proporções) aplicáveis aos demais co-presbíteros ou co-anciãos. Conforme já exaustivamente exposto, exerciam, simultaneamente o "episcopado" (superintendência), visto ser esta, uma atividade inerente (ou extensiva) à sua função. Seria, portanto, o EPISCOPADO (enquanto Classe ministerial autônoma e distinta do Presbiterado) uma inovação ou acréscimo pós-apostólico, cujo oficial reconhecimento veio a prevalecer apenas em meados de 150 d.C.? Talvez, não... Basta, nos atermos a duas ou três clássicas citações para que se possa (com pequena margem de erro) pressupor a existência do modelo administrativo "episcopal" ainda em estado extra-oficial ou latente. Vejamos:


"Os presbíteros que governam bem sejam estimados por dignos de duplicada honra, principalmente os que trabalham na palavra e na doutrina..."(I Tim. 5:17)


Ora, Paulo aí estabelece uma nítida distinção entre presbíteros e presbíteros... Determinados presbíteros (anciãos) deveriam ser duplamente dignificados em seus préstimos e particulares méritos para com a "Ekklésia".

"E ao anjo da igreja que está em ... "
(Apocalipse/Revelação)

Se, acatada como alusiva aos ministros responsáveis pelas "ekklésias" mencionadas, a expressão "anjo da igreja" faz inconteste referência aos primitivos Anciãos, contudo, de maneira restrita a um dentre àqueles que compunham o Presbitério local. Deduz-se, portanto, que as primitivas comunidades apostólicas já atribuíam uma singular notoriedade a um dentre os seus Anciãos "tutelares".

"... ou o que exorta, use esse dom em exortar; o que reparte, faça-o com liberalidade; o que PRESIDE, com cuidado; o que exercita misericórdia, com alegria." (Romanos, 12:8)

No fragmento anteriormente citado, podemos identificar sem quaisquer complicadores hermenêuticos a figura do Ancião "presidente", ou seja, àquele ao qual coube a primazia dentre os demais membros do Presbitério local ("Primus inter pares"). Aliás, a expressão grega aplicada ao contexto evoca a imagem de um "líder" ou, "àquele que se encontra a dianteira de"... Tais observações, entretanto, não devem (sob quaisquer alegações) ser utilizadas como um subterfúgio para o estabelecimento do Modelo Administrativo DIOCESANO (em detrimento da "ekklésia" LOCAL).

Atendo-nos aos Escritos Deuterocanônicos Neotestamentários (Apócrifos), podemos citar Tertuliano (160-230 d.C.), um dos mais célebres apologetas patrísticos. Em sua Obra “Da Vida Comunitária dos Cristãos”, refere-se aos membros do Corpo Eclesial nos seguintes termos:

“Os que PRESIDEM são Anciãos (Presbíteros) experimentados. Eles obtiveram esta honra não a peso do seu dinheiro, mas pelo testemunho da sua virtude”.

Vale lembrar, que mesmo o “Presbiterianismo Clássico”, tende a categorizar seus presbíteros, estratificando em DOCENTES ("Presbíteros-Pastores") e REGENTES (“Presbíteros-Coadjuvantes”).

Por seu turno, a “Sociedade Torre de Vigia de Bíblias e Tratados” - uma das mais tenazes defensoras da proeminência do modelo administrativo presbiteral - costuma atribuir a superintendência (episcopado) aos seus mais experimentados e sobressalentes Anciãos.

Desta feita, ao nos remetermos ao governo eclesiástico e suas modalidades, pode-se seguramente afirmar que um posicionamento inflexivelmente ortodoxo (PRESBITERATO X EPISCOPADO), nos possa conduzir a uma postura beligerante e contextualmente equívoca.


terça-feira, 6 de outubro de 2009

"Etimologia greco-latina: "EKKLÉSIA CHRISTIANA"

Primitiva "ekklésia", em sua derradeira prece
(arena romana)


Embora, tratando-se de algo absolutamente elementar a todo apologista/apologeta, um breve resgate etimológico, "via de regra", elucida ou, lança maior visibilidade sobre determinado conceito ou expressão. No tocante ao vocábulo EKKLÉSIA (gr.: εκκλησία) deve-se colocar prioritariamente em relevo a idéia inerente ao signo. Assim, temos (sem maiores digressões - as quais nos poderiam conduzir a uma perda de foco) uma alusão derivativa da preposição "ek", (que indica origem - o ponto de onde uma ação ou movimento procede), e "kaleo", (chamado, convocado). "EKKLÉSIA", pode (com as devidas restrições) ser aplicada como correlata à SINAGOGA (heb.: sunagoge), salientando-se, todavia, que está última possui alcance menos abrangente. "Ekklesia", geralmente indica uma parcela de elementos "convocados" mais "seleta" que "sunagoge" (Thayer). A EKKLÉSIA grega, é pois correlata a QHAL (congregação) véterotestamentária ou judáica. Contudo, não se deve (sob pena de se incorrer em grosseiro equívoco) associar "EKKLÉSIA" à idéia subjacente a "hágios" (gr.: santo, "separado") ou, por extensão ao seu equivalente hebráico: "kadosh". A esse respeito discorre Hort:


"Não há fundamento para a noção amplamente divulgada de que EKKLÉSIA ( εκκλησία ) signifique um povo ou um número de indivíduos "chamados para fora" do mundo ou etnia humana " (F. J. A. Hort, Op. Cit.).


Há que se considerar ainda, que a "EKKLÉSIA" dos dias apostólicos, aludia, sobretudo, a uma "convocação" de caráter laico ou civil, não estando necessariamente atrelada ao "Serviço Sagrado". Portanto, ao recorrer ao vocábulo em pauta, os autores neotestamentários adaptaram-no ao seu particular contexto, revestindo-o de uma inusitada significação.


Temos assim, por uma justa correspondência de idéias, propósitos e grafia a "CONGREGAÇÃO CRISTÃ" ("EKKLÉSIA CHRISTIANA"), em oposição ou, paralelamente à "CONGREGAÇÃO JUDÁICA" (ou Mosáica). Por "corruptela", pareceu conveniente a determinados tradutores neotestamentários verter “EKKLÉSIA” por “IGREJA”. Tal expressão, entretanto, obscurece a real acepção da palavra, induzindo o leitor leigo a conjecturas nem sempre procedentes. Além disso, e por condicionamento cultural irregularmente conduzido, passou-se a “ressignificar” a terminologia, atribuindo-lhe a inapropriada idéia de local ou templo (conforme já averiguado e, devidamente pontuado William Tyndale, dentre diversos outros autores reformistas).